Saúde
Transtornos marcam dia a dia do Ceron
Pacientes oncológicos voltam a enfrentar dificuldades para continuar com o tratamento
Carlos Queiroz -
Atualizada às 1h14 de 10/04/2020 para acréscimo de informações*
Há quatro meses o Centro de Radioterapia e Oncologia da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas (Ceron) está sem um aparelho necessário para a manipulação de medicações: a capela. Para que os pacientes com câncer não fiquem desassistidos, o Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) passou a emprestar o equipamento, que fica no Setor de Oncologia da Faculdade de Medicina (Famed), no Fragata. O empréstimo tinha duração de três meses e se encerrou na última quinzena de março. Outras renovações foram feitas e a última vence no próximo dia 15.
Daiane Machado, 41, foi diagnosticada com câncer de mama em agosto do último ano e, desde janeiro, faz tratamento no Ceron. Atualmente, ela recebe as aplicações semanais do segundo ciclo da quimioterapia. Na manhã da segunda-feira, ela e outros cinco pacientes levaram um susto: a dose semanal não seria aplicada. A justificativa do Ceron foi a necessidade de manutenção de um aparelho, a capela. No final do dia, após muitas reclamações e intermediação parlamentar, uma segunda ligação reagendou as aplicações para a manhã do dia seguinte.
“Pular uma dose compromete todo o tratamento e não garante que ele vá funcionar direito”, frisou a paciente. Após o susto, seis dos sete pacientes receberam as doses na terça-feira. Apesar da medicação ter sido aplicada, as incertezas com a continuidade do tratamento são uma constante no serviço, afirma Daiane. Fora isso, a falta de medicamentos também faz parte da rotina do Ceron. Geneci Pereira, 59, aguarda há mais de um mês na fila para começar os ciclos de tratamento com quimioterapia.
Diagnosticada com câncer de estômago, ela passou pela cirurgia de retirada dos linfomas em fevereiro. “Quanto mais rápido eu fizer a químio, melhor”, explica. As aplicações de quimioterapia fazem parte do tratamento, que ainda não terminou. Mesmo com a retirada dos linfomas, o câncer pode ainda se espalhar pelos tecidos de todo o corpo. Enquanto não recebe a ligação confirmando a chegada da medicação no Ceron, Geneci aguarda apreensiva. “Tenho medo que demore cada vez mais e o câncer apareça em outro lugar do corpo.”
Empréstimo renovado por uma semana
A capela é um aparelho que serve para a manipulação segura dos medicamentos voltados aos pacientes oncológicos. O Hospital-Escola da UFPel explica que o prazo de empréstimo à Santa Casa se encerrou na segunda-feira, após 15 dias adicionais aos três meses iniciados em janeiro. “Por mais que o hospital tenha os próprios pacientes oncológicos, nós dividimos o aparelho por entender que é para o bem maior e em benefício da comunidade”, explicou a chefe da Divisão Médica do HE/UFPel, Cristiane Neutzling.
O pedido de renovação do contrato, vencido na segunda, ocorreu nesta quarta-feira (8) e foi acolhido pelo HE. De acordo com a superintendente do Hospital, Samanta Madruga, o empréstimo tem duração até o dia 15 deste mês. Para que a capela siga em uso, protocolos de segurança contra a Covid-19 foram adotados. Entre as medidas, está determinado que somente um farmacêutico pode utilizar a capela por vez, não sendo permitida a entrada daqueles com síndrome gripal.
Além disso, a higienização foi intensificada. O Hospital Santa Casa de Misericórdia não respondeu aos questionamentos encaminhados ainda na terça-feira pela reportagem do Diário Popular quanto ao valor para consertar ou adquirir uma nova capela, nem sobre os prazos para solucionar a situação.
*O Hospital-Escola da UFPel, em contato com a reportagem no dia 10/04, informou que não restringiu o uso da capela na segunda-feira (06) ao Centro de Radioterapia e Oncologia da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas (Ceron), apesar do término do prazo de empréstimo do aparelho. A decisão de não utilizar a capela coube a Santa Casa.
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